A política, como a vida, é feita de voltas que nem sempre passam pelo mesmo caminho. A iminente filiação da deputada estadual Gracinha Mão Santa ao MDB resgata uma memória emblemática da história política do Piauí e expõe, com ironia involuntária, o contraste entre o novo rumo da filha e a veia crítica do pai.
Circula nas redes sociais um vídeo de 2017 em que Mão Santa, ex-governador do estado e símbolo da oposição aguerrida, dispara contra o MDB, o mesmo partido que, hoje, deve acolher Gracinha em sua nova fase política. No discurso, durante uma convenção do Solidariedade, o ex-prefeito de Parnaíba fez um apanhado de sua trajetória, disparando contra o “PMDB carcomido” e associando a mudança de nome da sigla a uma tentativa de encobrir mazelas internas: “É como um estuprador colocar uma máscara para estuprar outro”, disse.
Vale lembrar: Mão Santa deixou o então PMDB em 2010, ao ser preterido pela legenda na disputa ao Senado, quando o partido decidiu compor com o PT, união que ele sempre tratou como heresia política. “Meu horóscopo não bate com o PT, o Brasil inteiro sabe”, disse.
Já Gracinha segue por outra trilha. Eleita pelo Progressistas, até pouco tempo ocupava posição de oposição ao governo de Rafael Fonteles (PT). Agora, “ensaia” uma guinada estratégica. A aproximação com o Karnak passa não apenas pelo tom mais brando nos discursos, mas também pela filiação quase certa ao MDB, partido da base governista.
Enquanto Mão Santa via no PMDB um abrigo que se corrompeu ao ceder ao petismo, Gracinha enxerga na sigla uma ponte para permanecer relevante.
No fim, o PMDB que acolheu Mão Santa nos anos 80 e 90 não é o mesmo MDB que Gracinha está prestes a ingressar. Mas talvez a política, no Piauí como no Brasil, continue sendo o mesmo jogo, onde sobrenomes pesam, discursos mudam e o pragmatismo fala mais alto que a memória.
O MDB de Gracinha definitivamente não será o PMDB de Mão Santa.
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