Quarta, 16 de julho de 2025, 22:13

Xadrez na Política

ANISTIA E TARIFAÇO DE TRUMP

ARNALDO EUGÊNIO DOUTOR EM ANTROPOLOGIA

À medida em que se aproxima do julgamento e de possível condenação pela intentona de golpe de Estado – ou derrubar de maneira ilegal um governo estabelecido por meios democráticos e constitucionais – o ex-presidente e inelegível Jair Bolsonaro tem apelado a todo tipo de subterfúgios e de manobra azombada, para se esquivar da prisão por atos ilícitos contra os processos democráticos e as leis do país.

Assim, com a entrega das alegações finais na ação penal pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o "núcleo crucial" da organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado em 2022, o ex-presidente inelegível tenta, no desespero, enganar a opinião público a seu favor, associando o fim do tarifaço de Donald Trump ao Brasil à anistia ao grupo criminoso de cunho político. Mas, não há qualquer tipo de relação entre as situações.

Desse modo, relacionar o tarifaço de Trump com a concessão de anistia aos golpistas é forjar o absurdo. Pois, não há vínculos do documento entregue pela PGR ao Supremo Tribunal Federal (STF), que resume o processo e define a posição do Ministério Público Federal na ação contra Bolsonaro e os sete réus, com o tarifaço de Trump – um arroubo político e o uso de um instrumento comercial para outros fins.

Logo, é uma aberração de cunho bolsonarista reforçar que a anistia é a solução para o fim tarifaço de Trump. Isto não passa de um blefe delirante ou excitação deliberada aos ignorantes em economia internacional. Isto é, a questão comercial é secundária em tarifaço, pois a sanção tarifária de Trump contra Brasil é uma chantagem política e visa atingir o BRICS – um grupo de países de mercado com economias emergentes na economia-mundo e no contexto geopolítico internacional.

Pois, a jogada “the american player” tem um duplo sentido. Por um lado, é uma retaliação política e, por outro, é uma forma de gerar impactos econômicos e diplomáticos entre os dois países. Sendo usada pela extrema-direita tupiniquim para pressionar os ministros do STF e instigar os “patriotas fakes” a agirem na cegueira.

Desse modo, a tentativa de ligação forçadíssima do tarifaço – uma medida de “guerra comercial” – com uma anistia ou perdão em amplo sentido a golpistas, não tem qualquer vínculo de validade ou veracidade. Pois, além de atingir o BRICS, o tarifaço visa proteger as empresas de tecnologia e redes sociais estadunidense – p.ex. as big techs. Bem como, tentar interferir no processo político e judicial interno do Brasil – um país soberano.

Porém, é evidente que o clamor da extrema-direita por uma anistia, de fato, só existe por causa de Bolsonaro, mas nunca pelos outros sete réus golpistas. Ou seja, do mesmo modo que não há racionalidade econômica na decisão de Trump. Pois, em ambas, as motivações são políticas; não responde às relações internacionais da balança comercial; o Brasil não é tão relevante para a economia americana; nem chantagear a sociedade para agir contra o Poder Judiciário é uma postura patriótica.

Na prática, tanto a estratégia de Trump quanto o oportunismo de Bolsonaro se configuram como um “tiro no pé” com munição de pólvora política. Trata-se, de fato, de uma tentativa frustrada de interferir no sistema jurídico brasileiro, para anistiar o líder da intentona golpista.

Nesse sentido, é tão explícito que, na carta sobre as tarifas, Trump faz, também, a defesa do ex-presidente inelegível Jair Bolsonaro, acusado de tentativa de golpe de Estado no Brasil.  Isto é, com o intuito expresso de perpetrar uma ingerência contra o julgamento no STF, mesmo que o direito internacional não permita o uso de tarifas para fins políticos unilaterais.

Portanto, impor uma anistia política a golpista com um tarifaço comercial é, no mínimo, um comportamento abusivo made in USA, para obter vantagens políticas por meios ilegais, constrangendo a sociedade e o Judiciário, ofendendo um país soberano.

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