Aos 74 anos, a ex-governadora do Piauí Regina Sousa anunciou neste mês sua aposentadoria da vida pública, encerrando um ciclo de quase 50 anos dedicado à militância sindical, à política e à defesa das causas sociais no estado. Com uma trajetória que vai da quebradeira de coco babaçu no interior do Piauí aos principais cargos do Executivo estadual e ao Senado Federal, Regina deixa um legado de pioneirismo feminino e compromisso com os trabalhadores e os mais vulneráveis.

De origem humilde a liderança sindical

Regina Sousa nasceu em 4 de julho de 1950, no município de União, no interior do Piauí. Desde cedo, ajudou a família trabalhando na roça e como quebradeira de coco babaçu atividade tradicional de comunidades rurais na região. Após concluir a formação em Letras pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), atuou como professora na rede estadual de ensino.

Em 1983, ingressou no Banco do Brasil, iniciando sua atuação sindical que marcaria toda sua vida pública. Foi presidente do Sindicato dos Bancários do Piauí e uma das fundadoras da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no estado, tornando-se referência na defesa dos direitos dos trabalhadores bancários e em causas sociais.

Além disso, presidiu o Partido dos Trabalhadores (PT) no Piauí por seis mandatos alternados, consolidando seu espaço na política estadual.

No governo e no Senado

Em 2003, Regina Sousa foi nomeada secretária de Administração no governo do então governador Wellington Dias (PT). Durante sete anos, até 2010, atuou na estruturação da máquina pública estadual, com foco na valorização do servidor público e no fortalecimento da gestão administrativa.

Em 2010, foi eleita primeira suplente de Wellington Dias para o Senado Federal. Em 2015, ao assumir o mandato com a saída de Wellington para o governo do estado, tornou-se a primeira mulher senadora da história do Piauí.

No Senado, Regina destacou-se por sua postura combativa em defesa dos direitos trabalhistas e sociais. Foi contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff e posicionou-se contra a reforma trabalhista aprovada pelo Congresso, que flexibilizou leis trabalhistas vigentes.

Durante o mandato, também assumiu causas ligadas aos direitos humanos, especialmente em defesa das minorias e das populações vulneráveis.

Vice-governadora e a primeira governadora mulher do Piauí

Em 2018, Regina foi eleita vice-governadora na chapa de Wellington Dias, assumindo o cargo em janeiro de 2019. Em março de 2022, com a renúncia de Wellington Dias para disputar o Senado, Regina assumiu o governo estadual, tornando-se a primeira mulher a governar o Piauí.

Seu mandato durou nove meses, até 31 de dezembro de 2022. Durante este período, a gestão focou em ações sociais, habitação, meio ambiente e saúde pública. Entre os programas destacados, estão:

• Pro Verde: Programa de compensação ambiental com investimento de cerca de R$ 100 milhões.
• Moradia para Todos II: Programa habitacional que destinou até R$ 50 mil para famílias de baixa renda construírem suas casas.
• Regularização Fundiária: Entrega de mais de 13 mil títulos de terra a famílias rurais e urbanas.
• Rede de Cuidado ao AVC e IAM (Infarto Agudo do Miocárdio): Projeto que ampliou o atendimento emergencial, salvando mais de 100 vidas em 9 meses.
• Agricultura Familiar e Alimentação Saudável: Incentivo a quintais agroecológicos e programas de segurança alimentar.

Secretária de Assistência Social e despedida

Após deixar o governo, Regina foi convidada para assumir a Secretaria da Assistência Social, Trabalho e Direitos Humanos (SASC), onde permaneceu desde 2023. Nesta função, ampliou políticas voltadas a comunidades quilombolas, mulheres, trabalhadores informais e população em situação de vulnerabilidade.

Em dezembro de 2024, a ex-governadora anunciou que deixaria a vida pública no final do ano, alegando motivos de saúde e o desejo de dedicar-se à vida pessoal. A decisão foi comunicada ao governador Rafael Fonteles pediu para que regina permanecesse até este ano.

Legado e relevância

Regina Sousa deixa um legado importante como uma das principais lideranças femininas da política piauiense e brasileira. Foi a primeira mulher a representar o Piauí no Senado Federal e a governar o estado, abrindo caminhos para a participação feminina na política.

Uma trajetória, construída na luta sindical, sempre esteve alinhada à defesa dos direitos sociais, trabalhistas e humanos. Seu perfil discreto, mas firme, marcou a política do Piauí, especialmente nas áreas de assistência social, agricultura familiar e políticas públicas para populações tradicionais.

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